Dois bilhetes para Cacilhas, ida e volta, se faz favor
Estamos na estação fluvial do Cais do Sodré em Lisboa. Passamos uns dias na capital, e hoje de manhã decidimos ir a Cacilhas para lá almoçar e dar um passeio no Cais do Ginjal. Já fizemos a travessia do rio Tejo várias vezes nos anos passados, mas isso não nos impede de pagar mais uma vez um bilhete de ida e volta, e ir a ‘Outra Banda’.
Vamos a bordo dum Cacilheiro, um destes barcos antigos, vestido em cor-de-laranja, preto e branco. O sol brilha, a temperatura é de uns trinta graus e só há poucas nuvens neste domingo no mês de agosto. Olhamos para os outros barcos que atravessam o Mar da Palha, rumo a Barreiro, Montijo e Seixal.
Já muito cedo atracamos em Cacilhas. Em frente da estação fluvial há um largo onde ficam vários restaurantes com esplanadas. O cheiro penetrante de sardinhas assadas está no ar. Vêem-se umas barracas onde os vendedores vendem fruta e tremoços. A uns cinquenta metros fica o terminal rodoviário, onde vários passageiros do ferry apanham o autocarro para a Costa da Caparica ou Setúbal, entre outros destinos.
Nós é que vamos em sentido contrário, para o Cais do Ginjal, na zona ribeirinha de Cacilhas. Percorremos lentamente o cais velho e degradado. Há pedras soltas, buracos, garrafas de cerveja partidas, sujidade. O abandono é que rodeia este cais, a destruição, o vandalismo… À esquerda vêem-se antigas fábricas de salga de peixe e de gelo abandonadas, e pequenas casas velhas - ruínas é a palavra mais adequada - com as janelas partidas, o telhado avariado. São muitas as casas que já se desmoronaram. Os sinais de aviso ‘Perigo de desmoronamento’ nas paredes das casas obviamente não foram colocados para enfeitar.
Além disso, à direita do cais, um esgoto desagua diretamente no rio Tejo, levando consigo preservativos e pensos higiénicos… Surpreendente é que no meio disso há muitos cardumes. Os pescadores à linha, também eles não estão lá para enfeitar!
Mas porque é que gostamos tanto de estar aqui, nessa margem sul do Tejo? Basta lançar um olhar sobre o rio e a cidade de Lisboa um pouco mais além. A capital vista desta margem é fantástica, maravilhosa, inesquecível. A paisagem pela nossa frente é duma formosura rara, faz lembrar um quadro. Uma beleza destas não se vê todos os dias; realmente, estamos num miradouro privilegiado. Daqui pode-se contemplar a silhueta da capital, distinguir a Praça do Comércio, a Sé, o Castelo São Jorge, as igrejas, as docas. Um pouco mais à esquerda vê-se Belém com a sua Torre e o Padrão dos Descobrimentos.
Que maravilha! Seria esta a razão pela qual sempre regressamos a este sítio, quando estamos passando uns dias em Lisboa, esse cenário lindíssimo que não pára de nos comover?
Chris Van Der Elst