A ilusão
A velhice, as vezes tem conhecimento que alguém a tem alcançado. Como se seja alguma coisa para que tenha de trabalhar arduamente para conseguir. Enquanto seja uma coisa inevitável e imerecida, nada que deve fazer para adquirir, como um rollerskater que quase parado suba aparentemente lenta, para chegar enfim ao topo, hesita dois segundos e, depois rebola com uma velocidade desenfreada para baixa.
Há raros os dias que não estou a pensar: é para já. Rapidamente espreitar no espelho. Infelizmente não é umas coisas que vemos nos próprios. Mas geralmente diga alguém ao alguém, umas coisas sobre ainda alguém doutro " Ele começa a envelhecer. Le coup de vieux " Um golpe de suicídio pelo tempo. Na cara, gestos, relance de olhos, a nuca.
Chama-se, a armadilha genética, o modo como o corpo quase sem alteração pode continuar decénio depois decénio e de repente está à mercê do envelhecimento em apenas dois anos.
Assim é a ilusão, engraçada e ao mesmo tempo cruel, a ideia que o corpo se mantenha durante anos sem alternação. Só há um pormenor aparentemente fútil mas disfarçado, uma cãibra na perna, um vinco no semblante, brechas na memória.
Até ao dia, alguém abre a porta para ti e, notamos numa fracção de um segundo nos olhos de quem abriu a porta, ai! Ele envelheceu ou ainda pior ela envelheceu.
Ainda negamos o reconhecimento do outro e continuamos por algum tempo antes de querer aceitar o facto de velhice.
Não é verdade que sejamos o melhor Ilusionista de si próprio.
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